Jun 25, 2025

Neste artigo, Rodrigo Cunha, CEO da Profile, comenta sobre o que ouviu e viu no TED Coundown Summit, em Nairóbi (Quênia) nesta semana Por 25/06/2025 17h37 Rodrigo V. Cunha é CEO da Profile, organizador do TEDxAmazônia e autor de Humanos de Negócios — Foto: Divulgação A África está efervescente de vontade e soluções para enfrentar a crise climática. Foi esta a sensação que ficou entre os mais de 700 participantes de vários lugares do mundo, a partir do recorte de mais de 30 falas que aconteceram durante o TED Coundown Summit, em Nairóbi (Quênia), com boa representação brasileira. Entre uma quantidade grande de workshops e visitas a projetos em Nairobi, a vibrante e verde capital do Quênia, com um parque repleto de girafas, rinocerontes, leões dentro da cidade, ficou evidente que a África tem potencial para inovar em soluções climáticas por uma série de fatores: Cerca de 70% da população têm menos de 35 anos. A juventude e a força de transformação da África são visíveis. Há recursos naturais renováveis abundantes que junto de financiamento possibilitam uma escalada de energia solar e eólica. Os investimentos em energias renováveis cresceram de cerca de US$ 5 bilhões no período 2010–2020 para cerca de US$ 40 bilhões em 2024. O grid energético do continente é pouco dependente em uma infra-estrutura pesada de carbono, o que facilita um pulo mais rápido para uma matriz mais limpa de energia. Existe uma dívida moral a ser paga com os países em desenvolvimento que já está sendo cobrada nas negociações globais. A África contribui com menos de 4% das emissões de carbono globais, mas sofre uma parte desproporcional das consequências. Junto a isso, a quantidade de inovações que estão efervescendo na África são empolgantes. Mas não só na África: a curadoria de soluções apresentada pelo sempre preciso time do TED foi de dar esperança que as alternativas estão emergindo com força pelo mundo. Entre soluções africanas, a empreendedora ugandesa Doreen Orishaba construiu do zero um ônibus elétrico e está expandindo a infra-estrutura elétrica para ampliar o alcance. Cerca de 30,000 passageiras viajam entre Quênia e Ruanda todos os meses nos mais de 80 ônibus elétricos da BasiGo . A zambiana Mfikeyi Makayi está usando 17 anos de experiência em mineração de cobre e agora empreendendo com Inteligência Artificial na KoBold Metals para melhorar a precisão da mineração da quantidade crescente de minerais que serão necessários para a transição climática. E, por fim, o namibiano James Mnyupe está tornando a Namíbia um hug de manufatura de baixo carbono por meio do Namibia Green Hydrogen Program , com projetos de hidrogênio e amônia verde, que inclui navegação com combustível sustentável. Entre as inovações de outros lugares do mundo: vale destacar alguns como o empresa americana Pivot Bio , que traz de volta micróbios que naturalmente ajudam na fixação de nitrogênio na produção de alimentos e que perderam espaço para os agrotóxicos. Karsten Temme contou que está aumentando a produtividade de milho, pelo mundo, inclusive no Brasil em projetos pilotos bem sucedidos. Também dos EUA vêm Cindy Taff, que está usando tudo que aprendeu na indústria petroleira no Texas, para produzir energia geotermal, disponível de maneira abundante pelo mundo. Ela é CEO da Sage Geosystems , que usa conhecimentos em perfuração de poços para acessar a energia que fica debaixo do solo, limpa e extremamente abundante. A Sage utiliza o processo de fracking – segundo ela com impacto menor do que os projetos que já até originaram tremores de pequena escala nos EUA. E da Índia vem a plataforma de mídia Youth Ki Awaaz de Anshul Tewari, com conteúdo produzido por jovens compartilhando histórias de inspiração e transformação. Como estas novas narrativas compartilhadas pelos jovens, havia no ar do TED Countdown Summit uma vontade inegociável de transformação. Não faltou a já quase tradicional fala de Al Gore batendo na indústria de petróleo — desta vez criticando a narrativa de “climate realism” (realidade climática, em portugês) que vem emergindo. Segundo Gore, é mais uma tentativa da indústria de fósseis de esconder os danos que causam com lobby e resistência à transformação, atrasando a transição climática. Teve também novidades neste front da batalha contra os fósseis. Como a história de Guianesa Melinda Janki, que teve uma série de vitórias contra a Exxon-Mobil na Guiana. Uma delas foi garantir que a indústria de petróleo é responsável no país pelos danos ambientais de escopo 3 (missões indiretas de gases de efeito estufa da cadeia de valor de uma empresa, incluindo fornecedores e consumidores). Isso aumenta exponencialmente o custo. Além disso, ela conseguiu estender na corte a responsabilidade legal também para a matriz, além da subsidiária. Esta decisão derrubou em 12% o valor das ações da Exxon-Mobil em um dia. Melinda também conseguiu com um grupo de advogados mudar a lei que exige que o responsável pela ação legal pague os custos em caso de perda da ação. Agora, lutar pelo meio-ambiente não vai ter custos para quem propõe a ação, mesmo em casa de derrota. Melinda disse: “A indústria de petróleo quer que você acredite que você não pode lutar contra eles.” Tzeforah Berman voltou ao palco do TED Countdown dois anos depois para falar dos avanços do Tratado de Não-Proliferação de combustíveis fósseis, que já conta com 17 países e mais de 130 cidades e entidades subnacionais apoiando o tratado. O caminho para abrir mão dos combustíveis fósseis é longo, mas o elefante está na sala e há cada vez mais pressão. A questão é o tempo que isso vai levar. Tzeforah teve uma contribuição poética contra a indústria de petróleo e eventuais derramamentos de óleo. Esta é a grande preocupação dos ambientalistas em relação à exploração na Foz do Amazonas, além da quantidade de carbono a ser despejado na atmosfera: “Comparado com derramento de óleo, o derramento solar é apenas um dia ensolarado”. E falando em retornos e lucros acima de qualquer coisa, a franco-americana Esther Duflo, ganhadora do Prêmio Nobel de Economia em 2019, defendeu aumentar a taxação de corporações e bilionários para redistribuir recursos para combater a emergência climática. Ela lembrou queo Brasil colocou este tema na pauta do G20 durante sua presidência pela primeira vez no ano passado e reforçou que o dinheiro deve ir direto para as pessoas, num grande projeto de transferência de recursos pelo mundo. “Esse dinheiro precisa ser mobilizado para combater a dívida moral dos países ricos e reconstruir confiança.” E falando em Brasil, teve duas palestras de brasileiros trazendo soluções climáticas. A empreendedora cívica Ilona Szabó de Carvalho falou sobre como o Brasil pode e está se tornando uma superpotência da natureza (“Nature Superpower”), enfrentamento o desmatamento, criando projetos de bioeconomia e de reflorestamento em escala. Ela trouxe para o palco do TED Countdown exemplos do que já está acontecendo: de empresas como Natura, Belterra, ReGreen e a atuação de filantropias e aceleradoras como Arapyaú, Grupo Trigo e Amaz. E o empreendedor social Tasso Azevedo compartilhou os impressionantes resultados do MapBiomas , que tem sido usado agora em outros países para mapear e diminuir o desmatamento por meio de sanções legais para desmatamento ilegal — inescapáveis quando apoiadas por imagens de satélite. Quando mostrou os slides da queda do desmatamento nos últimos anos, todos participantes aplaudiram. Tasso apresentou também o exemplo do enfrentamento de garimpo na Amazônia, com o mapeamento de quase 3 000 pistas de pouso ilegais, que foram destruídas, impactando o escoamento do ouro de garimpo ilegal e diminuindo assim o estrago do mercúrio nos rios e nas populações indígenas e ribeirinhas. Foi ovacionado de pé ao final da apresentação. E no último ato da conferência, a head do TED Countdown Lindsay Levin anunciou os próximos planos do TED: durante a COP30, em Belém. Lá, acontecerá a TED Countdown House, que terá como parceiros brasileiros o TEDxAmazônia, a agência Profile e o Instituto Igarapé. Próxima parada do TED Countdown: Brasil! Que as idéias e resultados de renovação e esperança climática desembarquem com força na maior floresta do mundo em novembro. Sobre o autor Rodrigo V. Cunha é CEO da Profile, organizador do TEDxAmazônia e autor de Humanos de Negócios. (*) Disclaimer: Este artigo reflete a opinião do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.